Faz por estes dias, dois anos de uma pequena viagem feita entao por mim, o Gil, por ela, a Joana e por ele o Che. Tres portugueses que num acto de ousadia, mandaram-se por cerca de cinco dias a visitar o Carnaval de Veneza, onde? Pois, precisamente em Veneza. Esta viagens com contornos ludicos, imaginarios, sonhadores, espirito cultural e demais sentimentos, teve em si uma verdadeira estoria daquelas simples e pequenas e que nunca mais vos saem da cabeca. Quao bonita Veneza e! quao incrivel e o carnaval por aquelas bandas. Roupas espampanantes moldam os corpos de individuos completamente impossiveis de sofrer a identificacao, essa puta tao racista. Homens vestidos de mulheres e mulheres vestidas de homens, e assim a tradicao, embora seja impossivel de dizer se tal acontece. Roupas centenarias, imaculadamente intactas tem como objectivo mostrar a hipocrisia de toda uma sociedade. A cidade, a cair de podre (
almost) e sem ninguem a cuidar dela senao os (muito) poucos residentes da dita, veste-se para a celebracao do Carnaval, uma ideia baseada nos meandros da antiguidade e recuperada nos meandros do Cristianismo. Uma celebracao de Adeus a carne que se avisinha quaresma. Uma festa de ultimos vicios antes de entrar em celibato por respeito a deuses e filhos destes. Uma festa para criar pecados, para depois estes serem perdoados nos 40 dias e 40 noites que se avisinham. Porque sem pecados nao faz sentido a confissao e respectivo perdao da nossa senhora divindade de todos os nos, salvacao do mundo e dos seres humanos que assim o acreditam.
Viagem esta, resplandescente de cores, cheiros, e tactos (se assim o desejarem). Uma pequena viagem ao mundo dos sonhos e fantasias, onde de facto os super herois existem e os herois menos super nao deixam de existir. Ida esta que so por ir fica na memoria de todo o (nosso) sempre, assim de facto a minha memoria, assim de facto digo eu, e porque eu nao quero (consigo), nao me deixam esquecer. A viagem comecou com a ida, tudo o resto a que me deleito(ei) hoje em dia, tudo aquilo com que sonho e vivo intensamente em memoria (ja que a distancia e mais filha da puta do que eu) , tudo aquilo a que desejo e sinto saudade, comecou nao com a ida mas com a vinda. Faz quase dois anos em que voltei de Veneza, e entao a verdadeira Ida a Veneza, aquele Carnaval de fantasia, se tornou em realidade e comecou. Nao quando fui, que quando vou nao penso, apenas olho e vejo o que me rodeia. Mas sim quando voltei, eis que se me comeca um novo estar nesta minha existencia. Eis que se atravessa alguem na passadeira da avenida que sao os meus olhos quando os uso com o meu pensamento. Eis que toda a viagem faz sentido, criando novas pequenas viagens, primeiro de autocarro, depois de carro e depois, depois a viagem faz-se com tudo o que uso para viajar, primeiro o coracao que sente o que se viaja, depois o cerebro que se vai ousando a pensar. Porque primeiro caio em adrenalinas e depois caio na realidade daquela coisa completamente (da cabeca aos pes) maravilhosa.
Eis que me encontro aqui, num computador d'outra lingua, usando um teclado sem o ce de cedilha, os agudos e os graves, sem mesmo os tis e chapeuzinhos, eis que me encontro assim, volvidos dois anos, sem recuperar da viagem. Porque a recuperacao pode ser demorosa e dificil, porque para se recuperar (acredito plenamente) primeiro precisa-se querer recuperar. A vontada de tal nao vem, mais ainda, nao quero que venha e ficava deveras fodido se vie-se. Porque a recuperacao de um bem nunca se quer ter, e a recuperacao do mal que sofro, chamada de puta da distancia tambem nao se quer curar. Entao digam-me a mim que sou sempre todo d'ouvidos, como duas recuperacoes que se cruzam negativamente e nao se querem cruzar podem ser curadas? Deem-me uma ideia, assim simples como alguem teve um dia de ir ao Carnaval de Veneza.
Eis que me encontro aqui, com a estrada pela frente, o mapa na mao, bussola no bolso e suficientes conhecimentos de orientacao. Perdido.
Vivo e deixo viver, para que um dia, a Viagem ao Carnaval de Veneza e principalmente a Viagem que foi depois do Carnaval de Veneza se repita.
Deixo aqui tudo (e tudo levo comigo) aquilo que quero voltar a ter: A Viagem ao Carnaval de Veneza.