Tuesday, 8 July 2008

As minhas última palavras em solo Britânico

05h45m 28/06/08

Aeroporto John Lennon – Liverpool

A sete de Setembro de 2007, saí de um comboio ao fim da manhã na Estação de Liverpool em Londres. Saio da estação carregado de malas, esperanças, sonhos e euforias por tudo o que começava. Lembro-me de ter comprado um café que não se deu a tal nome, de me sentar nos degraus de uma pequena escadaria ai ao lado e de acender um cigarro enquanto à minha frente dois putos competiam na guerra do quem berra mais alto. No fim de tudo, lembro-me de pensar:
- Estou em Londres, começou o meu erasmus.

Estava sozinho, preparado para tudo e cheio de tudo para a etapa que tinha começado. A primeira fase foi uma incrível semana em Londres que apesar de sozinho fartei-me de encontrar gentes de espírito comum.
Essa semana foi de euforias puras, gentes novas, cidade diferente, cheiros e sabores estranhos, vistas novas e até sentimentos de viagem que me eram estranhos. Foi uma semana de conhecer gentes, conhecer sítios, conhecer Londres que mesmo depois de todas as incansáveis visitas, mostrou-se como a cidade em que tudo ainda faltava descobrir. Conheci o novo mundo e ao fim ao cabo, um novo eu, só ali na primeira semana de todo um ano,
Hoje mesmo, sem cerveja a fazer vezes de café ou mesmo de pequeno almoço, a situação reverte-se. Tudo diferente, a hora não é de cumprimentos mas sim de despedidas, não de euforias mas sim de melancolia, não de novidade mas de monotonia. Esta última semana foi comigo novamente só, igual àquela lá longe dita de primeira. Foi a minha última semana erasmus, oposta à primeira, sem festas, sem gentes, sem vontades, sem nada que não fosse as minhas próprias recordações. Esta última semana, tal como a primeira é especial, duas semanas significando o começo e a finda de um tal ciclo quase perfeito.
Um ano passado com tantas passagens por ele passadas, um ano completamente diferente em tudo, de outros ou outras, feito de tristezas e alegrias, perdas insubstituíveis depois de ter insubstituíveis ganhos, demasiados fluxos de demasiadas coisas que afinal deixou de ser sangue o que me escorre pelas veias.
Ao dar-me aqui a pensar sobre isso, acabo por não saber o que pensar, como me sentir. Quanta diferença do antes e do depois, os amigos que ganhei, a namorada que perdi, os conhecimentos humanos que descobri, as loucuras que cometi, o que mostrei, o que dei, mas mais, muito mais o sentido de tudo – o que recebi – o que sou eu afinal.
Tenho umas derradeiras três libras esterlinas na carteira, o dinheiro que faz sentido pró aqui, como se fizesse sentido em algum lado. Libras essas que deram para uma última pint, Guinness como manda a tradição e por saber que daquelas Guinness só mesmo por aquelas bandas encontro, a derradeira cerveja da despedida, a derradeira pint de despedida.
Durante esta última semana, aos poucos me fui apercebendo de que estaria prestes a partir, a grandiosidade deste ano e a minha pequenez em relação a tudo e a mim próprio. Acabava sempre em pensar nas saudades do lá longe Portugal e a tudo a que isso me refere. Agora, apesar de tudo, impossível conter uma enorme emoção, os olhos chegam a brilhar e uma lágrima tímida, escorre-me pela cara, puxada pela gravidade, arrancada de mim – significa tudo numa pequena gota, um ano numa gota.
É-me, ou será mesmo a qualquer um, impossível tentar sequer descrever algo de tamanha grandeza, não sou eu mais, apesar de o sentir ser, continuo igual a mim mesmo, os sentimento por tudo e por todos iguais e maiores, mais ainda marcados e demarcados por uma distância desesperada por vezes.
Nunca deixei aqueles sentimentos de parte, obrigo-me a isso mesmo e instável que o sou agora não deixa de ser estável. A amizade de amigos nunca esquecida e sentida mais forte. A família, no fim dita vem no princípio de tudo como o mais importante sentimento. Com o significado que finalmente vou percebendo no completo conjunto que é este o da essência de uma pessoa. Dou tudo o que ela merece, por ser o mais importante sem dúvida alguma afinal.
Eu, mais lamechas, mais sentimental, feito de coisas interiores que hoje não tenho fundo senão o meu exterior. Eu, diferente acreditem que vos rogo a isso, algo fez clique por aqui dentro com toda esta revolução em prol da liberdade, acabada a ditadura do meu eu, não serei o mesmo senão eu próprio nada mostrado, arrogante por isso mesmo. Eu, os amigos que deixo para trás, a tristeza feita esperança de os voltar a encontrar e promessa para serem cumpridas na certa.
Esta meia dúzia de palavras fazem-se malandras, pedem o descanso que nunca lhes dei na minha filosofia das coisas que não são mais do que as minhas várias cabeças.
Aqui, ao invés da estação de Liverpool onde tudo começou mas sim no aeroporto de Liverpool onde tudo acaba, deixo as minhas últimas e derradeiras palavras, a minha despedida do primeiro ano do resto da minha vida, a aventura vai a meio, já começou, está de férias agora e em breve será retomada.

Na língua que aprendia a gostar e aos poucos acabei por melhorar deixo a minha despedida.

Love you all my erasmus friends, see you soon!

Gil Bastos, transformado em Gilinho.

No comments: