Thursday, 26 June 2008

Aos meus amigos Eramus, na minha despedia.

Hoje fica o dia conhecido como aquele que deu lugar à minha última noite em Sheffield. Oficialmente não a minha última noite erasmus porque a noite de amanhã espera-se aborrecida feita em esperas e desesperos algures num recanto do aeroporto de Liverpool.
A tarde do dia de hoje, vinte e seis do mês de Junho de dois mil e oito, foi feita em fazer malas cheia de memórias, amigos, recordações de pequenos momentos, grandes momentos ou apenas feitos momentos diferentes que foram todos aqueles deste ano.
A banda sonora escolhida para o efeito, dito como acompanhamento de tristes sentimentos já feitos saudade só a relembrar todas as coisas que foi este mesmo ano, foi de uma banda portuguesa: Xutos & Pontapés bem ao meu estilo. O grupo de músicas foi aquele chamado de “Sei onde tu estás”. Todas as músicas acabam por descrever algum momento deste erasmus. Por isso mesmo, estas minhas últimas palavras na cama que se tornou escritório, confessionário, cinema, entretimento e por vezes mesmo isolamento são a partir de cada música, de cada momento que no final foi este meu ano fora de Portugal.
Cada coisa que metia na mala, era correspondida por um pensamento, uma memória do que foi este ano, uma palavra mais amiga, uma conversa mais animada, uma noite mais louca, uma aula mais aborrecida, uma pessoa mais irritante, mais um amigo, mais tudo o que fez deste ano um dos melhores e que mais vou recordar pela vida fora.
Seria impossível em breves palavras descrever todos os sentimentos que me atravessaram ou mesmo que me atravessam agora mesmo. Seria impossível descrever um ano deste nível, seria impossível descrever cada conversa, cada momento, cada pessoa que se atravessou pela minha frente. As horas de monotonia, as horas de euforia, as horas de estudo, as horas de diversão, as viagens, as paisagens, as vistas e as gentes, os diferentes povos e a conjugação destes num pais que de tudo tem diferente e em que todos acabam por ser iguais com as suas diferenças. Desde a Europa do Norte à Europa do Sul, da Europa Oeste à Este, da África ao Médio Oriente, da Ásia à América, do Sul ou do Norte, desde ilhas perdidas no meio do Atlântico geladas, ao pais do Sol Nascente, desde guerras a paz indiferente, de toda a parte do mundo vi pessoas, conversei com pessoas, conheci pessoas, mas acima de tudo fiz amigos, uns mais especiais do que outros é certo mas todos amigos, sem diferenças. As cores ficam de lado, religiões não fazem sentido, línguas existe uma, nacionalidades muitas e feita uma, somos ao fim ao cabo estudantes internacionais, encontrados por ironia do destino e esperanças em comum. Somos estudantes, apenas e só isso, com todas as diferenças que nos caracterizam mas acima de tudo com um comum, simples e de todos. Quando usado o inglês entres nós, existe uma língua comum em que todos somos cidadãos de um mundo incompreensível por muitos de nós e entendido por singularidades que deixam de existir. As conversas com Ahmed sobre a Arábia Saudita, os pontos favoráveis e desfavoráveis de tal País, um como os outros, diferente e por vezes sem sentido, mas afinal que País fará mesmo sentido? Uns Estados Unidos que criam guerra por todo o mundo? Uma Europa que se abstém e com o seu silêncio concorda em guerras desonestas e mercenárias? Que País fará sentido neste mundo senão aquele em que todos poderemos ser iguais, um País imaginário por certo que tal seria o sonho de qualquer pessoa. Uma África pobre, destruída e ambicionada por nós “Os Civilizados”, em que só filhos de chefes de estado ou mercenários de empresas carnívoras cedentas dos seus próprios trabalhadores, podem estudar com o significado verdadeiro de tal palavra. Ou então uma China tida como poderosa e em que os seus se destroem para a construção do grande império chinês. Em que mais uma vez apenas poucos e privilegiados estudantes se dão a tal beneficio. Que mundo é este afinal que deixei de compreender faz muito, em que eu próprio faço parte dessa máquina que é a verdadeira bomba nuclear que vai destruindo o mundo. Acabei por conhecer todas essas frentes apenas aqui, longe de tudo e sem ter real conhecimento da profundidade da questão, no meio de privilegiados como eu mesmo, histórias verdadeiras e no entanto tão longe. Tudo isto ultrapassa-me completamente e sem dúvida me modificou, de uma maneira em que eu próprio ainda não tenho noção mas que o meu futuro vai alterar de verdade, não apenas em teorias mas em práticas que serão não muito longínquas.
Um mundo que deixei compreender faz tempo mas que conheço um pouco mais já faz tempo.
Hoje é dia de despedidas, da minha, aqui sozinho que todos outros já tiveram a sua. Tempo de introspectivas e reflexões no que afinal significou todo este ano, tempo de recordar tudo o que foi este ano. Sem pensar em loucuras ou borgas mais desavindas, pensar no seu verdadeiro significado que é afinal nada mais do que o meu próprio entendimento, feito agora tempo de conhecidas mais frentes do meu conhecimento, encontro-me assim perdido, com vontade de Portugal e ganas de fugir dele mesmo, escapar-me de toda uma hipocrisia e pessimismo que é esse povo já falado por muitos. De um País que se pensa pobre, desprotegido e ao abandono de líderes tidos como menos dignos quando na verdade somos um dos muito poucos tocados pela sorte de sermos um dos melhores países do mundo, com pontos negativos de certo mas com os pontos positivos a baterem em larga escala os negativos. Já vinha com pensamentos deste género, mas sem dúvida que a distância os marcou e despontou verdadeiramente. Somos pequeninos mas grandes, muito grandes mesmo e todo o pessimismo latente em cada mente dá-me vontade de gritos, berros e palavras menos simpáticas, ao invés de se gritar pela felicidade que é o pequeno rectângulo, todos nós berramos a triste sorte calhada, sem saber sequer o significado dessa sorte. Sei que eu mesmo ainda procuro esse significado e por isso mesmo a viagem não acaba aqui mas apenas atinge uma fase. A próxima será radical, de um turn off total, em que eu me consiga descobrir num corpo que é o meu mas mais numa mente que desfruto. Será a minha missão, dedicada a mim mesmo, que isso acabe num despoletar de conhecimento e que esta seja não a missão prática da minha vida mas sim a teórica e por isso mesmo a que mais faça mais sentido, tida como prática durante e no final dessa.
Tudo isto podem vocês pensar nada ter a ver com esta despedida, mas isto no afinal de tudo acaba por não ser uma despedida mas sim um intervalo da rota traçada. E que por isso mesmo faça todo o sentido falar disso agora, a certeza invadiu-me por completo depois deste ano, os olhos mais abertos e a mente mais recheada.
Tudo isso tenho que agradecer apenas e exclusivamente a todas e singularmente a cada pessoa que conheci aqui que não são nada mais do que a razão desta vinda. Esqueçam lugares, esqueçam momentos, esqueçam tudo o que não seja cada amigo que aqui fiz, que foram sem dúvida alguma, a verdadeira descoberta.
Por ordem aleatória nomeio assim os principais intervenientes, em jeito de homenagem a aqueles que verdadeiramente são a razão de um Erasmus existir.
Ao Menk, da suíça pelas loucuras em comum, assim como ao Pascal que se enamorou por cá, ambos Suíços. Ao Stefano de Veneza da Italiana, pela música de um ano e as músicas de todos os dias, enroladas em momentos únicos. Ao Victor, Catalão do País Espanha, pelas conversas, disciplina, amizade e o tradicional caminhar espanhol em momentos de alcoolemia, sem esquecer as putas que vimos dançar em varões. Ao Ivan, pela descoberta de um leste diferente, em que realmente se descobre uma nova Ucrânia, nunca sem deixar de ser ele mesmo um típico Ucraniano. Ao Fatih pela mostra da Turquia em diferentes caminhos mas com diferentes opiniões e à sua mostra de opinião. Ao Ahmed pelas longas conversas feitas num sussurrar em que descobri uma Arábia diferente e como avaliar camelos. Ao Tobi pela mostra do nacionalismo Alemão feito de forma justa e sem exageros, exactamente como deve ser feito, pelo lado positivo, sempre. Ao Michael pela mostra de uma Suécia típica, sem surpresas e apenas com a única surpresa de um nórdico poder ter ares de Sul. À Emilie pela descoberta de um judaísmo diferente e ainda com exageros e pelo testemunho pessoal do que é ser descendente de uma guerra sem precedentes. À Niina pela mostra de uma Finlândia ao seu estilo, cheia de estilo e com cabeça no sítio, pelo mesmo digo à Ira Maria Serina. À Lina pela confirmação da Suécia, país de mulheres belas com esta a ter a particularidade de ser uma excelente conversa. À Delphine pela continuação da mostra de uma França diferente bem ao seu estilo e pela amizade que ficará para sempre. À Elena pelo calor espanhol que espalhou por todo ano e pelas loucuras típicas espanholas e quase portuguesas, mais um virada ao mediterrâneo que fica com recordações de grandes momentos de festa. À Charitini pela começo de uma amizade que infelizmente parou no tempo mas que deu para conhecer uma Grécia que não Atenas mas sim história, ainda mais. À pequenita Nuria que de todos era a mais portuguesa, pela proximidade, pela língua e pelo espírito galego seu tradicional. À Lydia que alemã deixava de o ser para ser de todas as nacionalidades, outra grande companhia de momentos mais pensativos ou festas mais malucas. À Pérrine que com o Pascal se tornou num casal de amigos e até ver o mais teimoso de todos, pelas conversas do segundo semestre e as saudades em comum de pessoas de sentimentos comuns. Ao Pedro um espanhol de natureza, acabou por ser aquele com mais pontos em comum de um Português típico como eu. À Johanna por ser mais uma alemã que deu de tudo mostra excepto de serem o tal povo frio de que se fala. À Jonina por ser a única vinda dos States que conseguiu ser de alguma forma inteligente e com carácter. À Joana por ser uma das duas isoladas companhias com a minha língua materna e por tudo o que isso naturalmente significa, nunca antes senti tamanha falta de falar o português. Ao Pedro pelas mesmas razões e que tomates teve para se lançar para aqui e estudar assim num País completamente diferente.
A todos estes, a todos os outros, a todos os que ficaram por mencionar, a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para este ano especial, o meu Obrigado pela Amizade que espero não ficar esquecida e muito menos guardada algures na memória. Que o encontro seja em breve e que tudo seja sempre lembrado como o excelente Erasmus Sheffield 2007.
Esquecem-me as palavras por tamanha Saudade já sentida, a derradeira despedida deste blogue ficará para amanhã numa longa noite.

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