Às vezes preciso que me lembrem o quão pouco é preciso para se construir um mundo, não o meu, não o vosso mas o mundo em geral. Às vezes preciso que me recordem que o meu mundo não sou eu, mas sim todos, tudo. A música a cantar devagarinho, que não música mas sons, barulho, ruído apenas por vezes. A velhinha na rua, que mal arrasta os pés, a carregar o peso de uma vida. O de cabelo grande, embaraçado no meio da trança, com as rastas a voar, a mochila a tombar, sinais de um mundo que rodeia e rodei e eis que fico tonto. Lembranças de canais fumados com putas ao desvario. Rodas metálicas a rodar fazendo o tempo parar, castelos ao fundo, no cimo do monte a olhar-te com desprezo pela tua pequenez. Às vezes esqueço-me do mundo, irrito-me comigo, irrito-me com os outros e os outros tão cheios de culpa como eu que não sou mais do que o único culpado pelos sentimentos adversos. Às vezes preciso de me recordar, outra vez, daquele toque, macio, carícia feita de amor, o beijo malicioso todo ele molhado que me arrepia até à espinha, não, não, não é espinha é mesmo até lá baixo onde todo eu me sinto, perversamente e tão inocente. Às vezes as recordações de os tempos tão pouco tempo passados, curtos para mim, vêm-me à cabeça a desfrutar de todos os momentos, a correr, desenfreadamente como se não eu conseguisse pensar mais. As corridas de pára-choques no meio do mato, as corridas no meio da mata, os pinheiros que são postes para me desviar, como covas que me posso magoar. O tabaco comprado na máquina
- Olha liga ai a máquina pra tirar tabaco.
Às vezes esqueço-me de mim mesmo como sou eu que não mais do que o mundo que me rodeia, e esses às vezes é tão doloroso que me quero lembrar de tudo, sempre, sempre a lembrar de tudo. As memórias de subir, não, antes descer aquele morro feito de prata por nome, costa de acoplado com o casebre abandonado ali, à espera de dias mais felizes que não fotos de recordações, à espera de voltar a viver outra vez nas recordações de alguém. Tendas de campismo, pequenitas a escaldar com o quente do Sol. Aí as recordações voltam-me a dar vida que somos tudo o que vivemos mas mais somos o que recordamos, que não é mais senão aquilo que nos constrói. A música outra vez a dizer incessante, vai, vai, está na tua hora. A outra a dizer, recorda, agarra-te à memória, luta para que volte a ser mais do que memória e a seres outra vez tu. E eu rendido, sem defesas nas teias da memória.
Às vezes esqueço-me do quão simples é feito o meu mundo, enervo-me, irrito-me e esqueço-me da memória. Os palavrões vêm à boca, que não são mais do que manifestos de procura da memória.
Assim, vou eu recordando todas as coisas
- Ai minhas putas!
E a memória a vir comigo a querer ir visitá-la outra vez, de novo a tocar que tenho tantas saudades de a tocar, a memória feita vida, e toque outra vez. E palavras molhadas no meio de beijos molhados e toques já não mais inocentes. A saudade de ver o mar ao passear, deitar tripa para tripa, de fora para dentro, com o mar. A bola a passar ao lado com a memória na minha frente, a cerveja que de tão torrada se torna no meu sangue a fervilhar no meio da memória e outra vez, voltar de memória. Os domingos de serões no meio de clarões na minha memória e o desejo de lá voltar para dizer Olá, estou aqui, não me fui embora, nunca me fui embora, sempre aqui estive, vamos continuar com a memória, vamos perdurá-la no viver sempre e para sempre. As saudades das investidas nocturnas com passadas a preços inferiores aos escandalosos de hoje, só para matar a sede do bicho novamente e assim continuar com a investida na noite. Em direcção ao mesmo Norte que me faz perder a memória e desesperar com essa mesma ideia. E a investida a seguir e a acabar no leito verde sujo comigo limpo de tudo, suado e feliz. Sedento de mais memórias mortas, é como fico depois de recordar, de dizer, não, volta para mim memória e diz-me que nunca me deixas-te de recordar, diz-me que vamos continuar nas nossas memórias a encontrar e a fabricar outras mesmas memórias. Diz-me que sempre ai estiveste, à espera que te recorda-se e nunca sem vacilar, porque eu nunca vacilei. E estou eu aqui, sempre a viver nas memórias e com o dia-a-dia construir novas memórias nunca sem esquecer.
Às vezes quase me esqueço do que quão simples se constrói o mundo, mas ai recordo e volto a saber que o meu mundo é simples e feito das pequenas e simples coisas que me construíram. Diz-me só memória se voltarás a mim como nunca me esqueceste.
- Olha liga ai a máquina pra tirar tabaco.
Às vezes esqueço-me de mim mesmo como sou eu que não mais do que o mundo que me rodeia, e esses às vezes é tão doloroso que me quero lembrar de tudo, sempre, sempre a lembrar de tudo. As memórias de subir, não, antes descer aquele morro feito de prata por nome, costa de acoplado com o casebre abandonado ali, à espera de dias mais felizes que não fotos de recordações, à espera de voltar a viver outra vez nas recordações de alguém. Tendas de campismo, pequenitas a escaldar com o quente do Sol. Aí as recordações voltam-me a dar vida que somos tudo o que vivemos mas mais somos o que recordamos, que não é mais senão aquilo que nos constrói. A música outra vez a dizer incessante, vai, vai, está na tua hora. A outra a dizer, recorda, agarra-te à memória, luta para que volte a ser mais do que memória e a seres outra vez tu. E eu rendido, sem defesas nas teias da memória.
Às vezes esqueço-me do quão simples é feito o meu mundo, enervo-me, irrito-me e esqueço-me da memória. Os palavrões vêm à boca, que não são mais do que manifestos de procura da memória.
Assim, vou eu recordando todas as coisas
- Ai minhas putas!
E a memória a vir comigo a querer ir visitá-la outra vez, de novo a tocar que tenho tantas saudades de a tocar, a memória feita vida, e toque outra vez. E palavras molhadas no meio de beijos molhados e toques já não mais inocentes. A saudade de ver o mar ao passear, deitar tripa para tripa, de fora para dentro, com o mar. A bola a passar ao lado com a memória na minha frente, a cerveja que de tão torrada se torna no meu sangue a fervilhar no meio da memória e outra vez, voltar de memória. Os domingos de serões no meio de clarões na minha memória e o desejo de lá voltar para dizer Olá, estou aqui, não me fui embora, nunca me fui embora, sempre aqui estive, vamos continuar com a memória, vamos perdurá-la no viver sempre e para sempre. As saudades das investidas nocturnas com passadas a preços inferiores aos escandalosos de hoje, só para matar a sede do bicho novamente e assim continuar com a investida na noite. Em direcção ao mesmo Norte que me faz perder a memória e desesperar com essa mesma ideia. E a investida a seguir e a acabar no leito verde sujo comigo limpo de tudo, suado e feliz. Sedento de mais memórias mortas, é como fico depois de recordar, de dizer, não, volta para mim memória e diz-me que nunca me deixas-te de recordar, diz-me que vamos continuar nas nossas memórias a encontrar e a fabricar outras mesmas memórias. Diz-me que sempre ai estiveste, à espera que te recorda-se e nunca sem vacilar, porque eu nunca vacilei. E estou eu aqui, sempre a viver nas memórias e com o dia-a-dia construir novas memórias nunca sem esquecer.
Às vezes quase me esqueço do que quão simples se constrói o mundo, mas ai recordo e volto a saber que o meu mundo é simples e feito das pequenas e simples coisas que me construíram. Diz-me só memória se voltarás a mim como nunca me esqueceste.
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