Este aqui descrito, descreve-me como o eu, de olhar infinito e nunca e às vezes vazio, a olhar acima, sempre mais acima do que deveria olhar, sempre a olhar imaginários e sonhos ao invés da minha própria realidade, este sou o eu deitado no chão que não meu, que não eu, que não aquele verde que me lembro de deitar e que gostava de me voltar a deitar – terra, fria, preta – erva, molhada, verde – Eu no meio das minhas todas liberdades. Este sou eu, preto no branco sem nada a esconder senão mesmo aquilo que me passa no pensamento e que isso mesmo mostro com todas as palavras o mais escondidas possíveis. Este sou o eu que fui e não sou mais e que serei novamente, este sou o eu todo, ou apenas metade de mim próprio. Este é todo aquele que olha o infinito sem medo de o contar, como números, com paciência, como tendenciosos. Este poderia ser eu deitado no Campo da Fundada quando tinha dez anos. E mesmo agora, continua a poder ter sido e a ser o eu, escondido.
Este sou mesmo eu agora, agora mesmo, sim, sim, neste exacto momento, a tentar não ver o que me mostram, a fugir dos meus medos, deitado no chão, caído, a escorregar pelas ruas da minha amargura, a fugir, a dar as mãos para elas me falarem, não quero escutar, não quero ouvir aquilo que me diz a minha mente, não, sou surdo e não mudo que continuo a falar a altos berros para que não ouça aquilo que me dizem, a tapar a minha cara, não, não, não me digam isso, não quero ouvir, fiquem com os meus pés, fiquem comigo todo, não me fiquem com o meu coração, é meu. E, com as mãos a taparem-me a cara para que as ondas de palavras não me atinjam, eis que deixo o coração desprotegido, eis que tudo me poderá atingir apenas porque não quero escutar o que me dizem, eis que tudo pode marcar, sangrar e cair no meio das batalhas. Eu, no fim de tudo continuo a não querer ouvir, porque só a realidade de ouvir me poderá fazer acreditar. Dou o coração para não cair na realidade.
Este sou eu desesperado quando mesmo não ouvindo, sinto a minha consciência que essa puta nunca lhe dou ouvidos mas que não consigo deixar de a sentir. Eis então que o desespero me afronta a alma, prende o espírito e me atrofia o corpo. Eis que definho sobre mim mesmo sem querer acreditar no que a consciência me diz. Sou eu, apenas agarrado ao chão para que ele não me fuja e passe para o próximo passo, para que ele não me escorregue e me deixe cair no vazio – Tenho medo.
Este sou o eu paralisado, sem reacção, caído em realidades, caído em desesperos, sem identidade. Apenas com a sombra para me dizer que afinal ainda tenho corpo. Sem olhar, sem cor, sem futuro, sem esperança, sem nada senão a profundidade do meu olhar que não é senão um buraco que de tão vazio tudo se pode encaixar lá dentro. Não, antes um olhar onde tudo já se encaixou. Não é um olhar sem passado, é um olhar com passado e sem futuro que apenas não alcança mais do que o ponto abstracto da direcção deste, direcção apenas com um sentido, o de saída pois o de entrada está bloqueado. Serei eu capaz de me tornar num ser tão desprezível assim como este olhar? Já tive momentos assim, tento fugir deles. Não, não, tento tapa-los com as mãos.
Eu,
Escuto o que me vem,
Espero pela hora do que vem,
Luto comigo próprio para não dar parte de fraco,
Mas, apesar de tudo, de todas as inquietações, de todas as forças que me vêm não sei bem de onde, que me invadem e me fazem sentir forte como um leão, como se nada me pudesse atingir, nada mesmo nada, sou mesmo forte, sou o maior, sou aquele a quem ninguém pode atingir senão eu mesmo que sou dono e senhor de mim!
Apesar disso e ainda mais, não consigo deixar de me abrir num todo e dar-me sem receios de ninguém. Como se fosse uma pequena criança inocente não sabendo o quão perigoso é o mundo, apenas pensando que tudo pode ser um brinquedo, que tudo é aventura por descobrir, que todos somos apenas umas marionetas do seu mundo, fazendo tudo aquilo que se pode imaginar.
Assim, eu me dou, sem receio de nada.
Por isso mesmo continuo a ver a luz no fundo do túnel.
E assim, continuo um eterno enamorado pelas coisas que me dão alegria na vida. Sou apenas mais um. Dentro daqueles que pensam e têm a certeza de que encontraram um sentido na vida.
Eu sim, verdadeiramente encontrei um sentido na vida, falta-me descobrir todos os outros.
(não deixei de visitar o blog da Juliana, espero que ela não se importe com este pequeno empréstimo de fotografias, fica já, aqui e agora o meu agradecimento.)
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