Thursday, 19 June 2008

Dia vinte do Junhol, feito ano dois mil e oito.

Hoje poderia ser um dia como qualquer um, por ser dia deixa de ser exactamente como qualquer outro. Diferente, como sempre.
O dia começou o Sol ia já a fugir, para algum lado que não do meu conhecimento. Não interessa na verdade, foi um dia apenas. Caminhada até ao tal laboratório que se transformou em prisão ultimamente. Efeitos secundários diriam alguns. Efeitos alguns diria de forma secundária, na verdade, não interessa de facto.
O tal nano-laboratório, feito de nano instrumentos, coisas nano que assim me deixam, pequenino, quase nano. Estranha escala esta. Andei por lá, no corte de vidros quase cerâmicos, tudo menos transparentes mas sem deixarem de ser qualificados como vidros. O meu, o tal com prata lá no meio, quase precioso que tantos problemas vai dando, quase analisado, quase quebrado pela força de o forçar a quebrar no resultado final que tarda a chegar. Foi um tal digitalizar de coisas, primeiras imagens como manda o tutor que tem de Moebus alguma coisa e de doutor ainda mais, não o meu estilo. Ida a casa que se fazia hora de janta, não em horário português mas sim a tocar o fuso horário inglês. Cedo assim demasiado para se fazer sequer hora de tal ritual. Mais ainda, não interessa. Caminhada de volta a centros não planetários mas apenas citadinos, procura do lugar onde iria deixar emoções e eis que os vermelhos começam a chutar a bola contra os loiros ou louros que não interessa. No fim ao cabo, acabaram os tais loiros a ficar com os louros que nos cabiam a nós. Errata assim seria a do jogo, apenas aquela que foi a nossa que lhes demos os nossos louros. Os couros dei eu, mais do que uma vez, em sofrimento de palavrões e caralhadas. Nervos em flor, em superfícies mais do que epidérmicas, a transbordar em suores que fizeram incomodar muitas gentes. Acabou-se tudo, o jogo, a emoção e o europeu. Sozinho como festejei muitas vezes, deixei-me estar em tristezas a tocar inutilidades.
O convite seguinte que me fiz forçar a aceitar era de um jantar com restos de memórias de uma cidade e gentes. Feito à base de verduras, carnes pelo meio e peixe à mistura. Um batido total de tudo que este ano deu, a chegar a tocar num clímax que foi o jantar feito de histórias mal contadas com memórias mal recordadas. Fez-se tudo com o jantar, que foi mesmo feito de tudo. Era eu e quatro da França que tanto dou treino. Foi jantar feito de palavras mas que chegou a ter comida. A cerveja mentia ao espírito que esse mesmo era regado de lágrimas notórias de memórias e feitas de Saudade. Esqueceu-se tudo e teve-se um momento último, de satisfação, de amizade, de conversa simples e inocente. A música parou para dar lugar ao filme, a uma história famosa, lamechas e tudo de entretenimento. Foi feita de danças e músicas em alegria e assim por ai ficou.
Acabo agora aqui em casa com cigarros quase românticos de serem feitos por tabaco puro, sem filtro, com papel e as mãos de cheiro entranhado. Como ontem acabo a sonhar, ontem escrevi o meu sonho em palavras com todo o sentido que eu mesmo chego a ter. Hoje, sem sentido algum sobre aquilo que me digo, tocado apenas pelo sintoma das fermentações, não sóbrio, não bêbado mas resignado ao destino que sou eu mesmo dentro de mim próprio e de tal arrogância de palavras, fico aqui, acabando com o mesmo sentimento de ontem e sem as mesmas palavras de algum dia. Apenas a vontade de dia vinte e oito e uma coisa de memória dita feita em desespero próprio que sou eu mesmo, assim sem nada.
Hora de ir a algures que é aquele lugar entre o sonho e a imaginação, que não sonho pois a hora é de dormir e todos os meus sonhos crescem despertos, que imaginação sim que imagino almofadas que não azuis e fofas, mas sim nuas e poderosas.
Vou-me que se faz tarde na minha hora nunca chegada.

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