Thursday, 26 June 2008

Aos meus amigos Eramus, na minha despedia.

Hoje fica o dia conhecido como aquele que deu lugar à minha última noite em Sheffield. Oficialmente não a minha última noite erasmus porque a noite de amanhã espera-se aborrecida feita em esperas e desesperos algures num recanto do aeroporto de Liverpool.
A tarde do dia de hoje, vinte e seis do mês de Junho de dois mil e oito, foi feita em fazer malas cheia de memórias, amigos, recordações de pequenos momentos, grandes momentos ou apenas feitos momentos diferentes que foram todos aqueles deste ano.
A banda sonora escolhida para o efeito, dito como acompanhamento de tristes sentimentos já feitos saudade só a relembrar todas as coisas que foi este mesmo ano, foi de uma banda portuguesa: Xutos & Pontapés bem ao meu estilo. O grupo de músicas foi aquele chamado de “Sei onde tu estás”. Todas as músicas acabam por descrever algum momento deste erasmus. Por isso mesmo, estas minhas últimas palavras na cama que se tornou escritório, confessionário, cinema, entretimento e por vezes mesmo isolamento são a partir de cada música, de cada momento que no final foi este meu ano fora de Portugal.
Cada coisa que metia na mala, era correspondida por um pensamento, uma memória do que foi este ano, uma palavra mais amiga, uma conversa mais animada, uma noite mais louca, uma aula mais aborrecida, uma pessoa mais irritante, mais um amigo, mais tudo o que fez deste ano um dos melhores e que mais vou recordar pela vida fora.
Seria impossível em breves palavras descrever todos os sentimentos que me atravessaram ou mesmo que me atravessam agora mesmo. Seria impossível descrever um ano deste nível, seria impossível descrever cada conversa, cada momento, cada pessoa que se atravessou pela minha frente. As horas de monotonia, as horas de euforia, as horas de estudo, as horas de diversão, as viagens, as paisagens, as vistas e as gentes, os diferentes povos e a conjugação destes num pais que de tudo tem diferente e em que todos acabam por ser iguais com as suas diferenças. Desde a Europa do Norte à Europa do Sul, da Europa Oeste à Este, da África ao Médio Oriente, da Ásia à América, do Sul ou do Norte, desde ilhas perdidas no meio do Atlântico geladas, ao pais do Sol Nascente, desde guerras a paz indiferente, de toda a parte do mundo vi pessoas, conversei com pessoas, conheci pessoas, mas acima de tudo fiz amigos, uns mais especiais do que outros é certo mas todos amigos, sem diferenças. As cores ficam de lado, religiões não fazem sentido, línguas existe uma, nacionalidades muitas e feita uma, somos ao fim ao cabo estudantes internacionais, encontrados por ironia do destino e esperanças em comum. Somos estudantes, apenas e só isso, com todas as diferenças que nos caracterizam mas acima de tudo com um comum, simples e de todos. Quando usado o inglês entres nós, existe uma língua comum em que todos somos cidadãos de um mundo incompreensível por muitos de nós e entendido por singularidades que deixam de existir. As conversas com Ahmed sobre a Arábia Saudita, os pontos favoráveis e desfavoráveis de tal País, um como os outros, diferente e por vezes sem sentido, mas afinal que País fará mesmo sentido? Uns Estados Unidos que criam guerra por todo o mundo? Uma Europa que se abstém e com o seu silêncio concorda em guerras desonestas e mercenárias? Que País fará sentido neste mundo senão aquele em que todos poderemos ser iguais, um País imaginário por certo que tal seria o sonho de qualquer pessoa. Uma África pobre, destruída e ambicionada por nós “Os Civilizados”, em que só filhos de chefes de estado ou mercenários de empresas carnívoras cedentas dos seus próprios trabalhadores, podem estudar com o significado verdadeiro de tal palavra. Ou então uma China tida como poderosa e em que os seus se destroem para a construção do grande império chinês. Em que mais uma vez apenas poucos e privilegiados estudantes se dão a tal beneficio. Que mundo é este afinal que deixei de compreender faz muito, em que eu próprio faço parte dessa máquina que é a verdadeira bomba nuclear que vai destruindo o mundo. Acabei por conhecer todas essas frentes apenas aqui, longe de tudo e sem ter real conhecimento da profundidade da questão, no meio de privilegiados como eu mesmo, histórias verdadeiras e no entanto tão longe. Tudo isto ultrapassa-me completamente e sem dúvida me modificou, de uma maneira em que eu próprio ainda não tenho noção mas que o meu futuro vai alterar de verdade, não apenas em teorias mas em práticas que serão não muito longínquas.
Um mundo que deixei compreender faz tempo mas que conheço um pouco mais já faz tempo.
Hoje é dia de despedidas, da minha, aqui sozinho que todos outros já tiveram a sua. Tempo de introspectivas e reflexões no que afinal significou todo este ano, tempo de recordar tudo o que foi este ano. Sem pensar em loucuras ou borgas mais desavindas, pensar no seu verdadeiro significado que é afinal nada mais do que o meu próprio entendimento, feito agora tempo de conhecidas mais frentes do meu conhecimento, encontro-me assim perdido, com vontade de Portugal e ganas de fugir dele mesmo, escapar-me de toda uma hipocrisia e pessimismo que é esse povo já falado por muitos. De um País que se pensa pobre, desprotegido e ao abandono de líderes tidos como menos dignos quando na verdade somos um dos muito poucos tocados pela sorte de sermos um dos melhores países do mundo, com pontos negativos de certo mas com os pontos positivos a baterem em larga escala os negativos. Já vinha com pensamentos deste género, mas sem dúvida que a distância os marcou e despontou verdadeiramente. Somos pequeninos mas grandes, muito grandes mesmo e todo o pessimismo latente em cada mente dá-me vontade de gritos, berros e palavras menos simpáticas, ao invés de se gritar pela felicidade que é o pequeno rectângulo, todos nós berramos a triste sorte calhada, sem saber sequer o significado dessa sorte. Sei que eu mesmo ainda procuro esse significado e por isso mesmo a viagem não acaba aqui mas apenas atinge uma fase. A próxima será radical, de um turn off total, em que eu me consiga descobrir num corpo que é o meu mas mais numa mente que desfruto. Será a minha missão, dedicada a mim mesmo, que isso acabe num despoletar de conhecimento e que esta seja não a missão prática da minha vida mas sim a teórica e por isso mesmo a que mais faça mais sentido, tida como prática durante e no final dessa.
Tudo isto podem vocês pensar nada ter a ver com esta despedida, mas isto no afinal de tudo acaba por não ser uma despedida mas sim um intervalo da rota traçada. E que por isso mesmo faça todo o sentido falar disso agora, a certeza invadiu-me por completo depois deste ano, os olhos mais abertos e a mente mais recheada.
Tudo isso tenho que agradecer apenas e exclusivamente a todas e singularmente a cada pessoa que conheci aqui que não são nada mais do que a razão desta vinda. Esqueçam lugares, esqueçam momentos, esqueçam tudo o que não seja cada amigo que aqui fiz, que foram sem dúvida alguma, a verdadeira descoberta.
Por ordem aleatória nomeio assim os principais intervenientes, em jeito de homenagem a aqueles que verdadeiramente são a razão de um Erasmus existir.
Ao Menk, da suíça pelas loucuras em comum, assim como ao Pascal que se enamorou por cá, ambos Suíços. Ao Stefano de Veneza da Italiana, pela música de um ano e as músicas de todos os dias, enroladas em momentos únicos. Ao Victor, Catalão do País Espanha, pelas conversas, disciplina, amizade e o tradicional caminhar espanhol em momentos de alcoolemia, sem esquecer as putas que vimos dançar em varões. Ao Ivan, pela descoberta de um leste diferente, em que realmente se descobre uma nova Ucrânia, nunca sem deixar de ser ele mesmo um típico Ucraniano. Ao Fatih pela mostra da Turquia em diferentes caminhos mas com diferentes opiniões e à sua mostra de opinião. Ao Ahmed pelas longas conversas feitas num sussurrar em que descobri uma Arábia diferente e como avaliar camelos. Ao Tobi pela mostra do nacionalismo Alemão feito de forma justa e sem exageros, exactamente como deve ser feito, pelo lado positivo, sempre. Ao Michael pela mostra de uma Suécia típica, sem surpresas e apenas com a única surpresa de um nórdico poder ter ares de Sul. À Emilie pela descoberta de um judaísmo diferente e ainda com exageros e pelo testemunho pessoal do que é ser descendente de uma guerra sem precedentes. À Niina pela mostra de uma Finlândia ao seu estilo, cheia de estilo e com cabeça no sítio, pelo mesmo digo à Ira Maria Serina. À Lina pela confirmação da Suécia, país de mulheres belas com esta a ter a particularidade de ser uma excelente conversa. À Delphine pela continuação da mostra de uma França diferente bem ao seu estilo e pela amizade que ficará para sempre. À Elena pelo calor espanhol que espalhou por todo ano e pelas loucuras típicas espanholas e quase portuguesas, mais um virada ao mediterrâneo que fica com recordações de grandes momentos de festa. À Charitini pela começo de uma amizade que infelizmente parou no tempo mas que deu para conhecer uma Grécia que não Atenas mas sim história, ainda mais. À pequenita Nuria que de todos era a mais portuguesa, pela proximidade, pela língua e pelo espírito galego seu tradicional. À Lydia que alemã deixava de o ser para ser de todas as nacionalidades, outra grande companhia de momentos mais pensativos ou festas mais malucas. À Pérrine que com o Pascal se tornou num casal de amigos e até ver o mais teimoso de todos, pelas conversas do segundo semestre e as saudades em comum de pessoas de sentimentos comuns. Ao Pedro um espanhol de natureza, acabou por ser aquele com mais pontos em comum de um Português típico como eu. À Johanna por ser mais uma alemã que deu de tudo mostra excepto de serem o tal povo frio de que se fala. À Jonina por ser a única vinda dos States que conseguiu ser de alguma forma inteligente e com carácter. À Joana por ser uma das duas isoladas companhias com a minha língua materna e por tudo o que isso naturalmente significa, nunca antes senti tamanha falta de falar o português. Ao Pedro pelas mesmas razões e que tomates teve para se lançar para aqui e estudar assim num País completamente diferente.
A todos estes, a todos os outros, a todos os que ficaram por mencionar, a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para este ano especial, o meu Obrigado pela Amizade que espero não ficar esquecida e muito menos guardada algures na memória. Que o encontro seja em breve e que tudo seja sempre lembrado como o excelente Erasmus Sheffield 2007.
Esquecem-me as palavras por tamanha Saudade já sentida, a derradeira despedida deste blogue ficará para amanhã numa longa noite.

Thursday, 19 June 2008

Dia vinte do Junhol, feito ano dois mil e oito.

Hoje poderia ser um dia como qualquer um, por ser dia deixa de ser exactamente como qualquer outro. Diferente, como sempre.
O dia começou o Sol ia já a fugir, para algum lado que não do meu conhecimento. Não interessa na verdade, foi um dia apenas. Caminhada até ao tal laboratório que se transformou em prisão ultimamente. Efeitos secundários diriam alguns. Efeitos alguns diria de forma secundária, na verdade, não interessa de facto.
O tal nano-laboratório, feito de nano instrumentos, coisas nano que assim me deixam, pequenino, quase nano. Estranha escala esta. Andei por lá, no corte de vidros quase cerâmicos, tudo menos transparentes mas sem deixarem de ser qualificados como vidros. O meu, o tal com prata lá no meio, quase precioso que tantos problemas vai dando, quase analisado, quase quebrado pela força de o forçar a quebrar no resultado final que tarda a chegar. Foi um tal digitalizar de coisas, primeiras imagens como manda o tutor que tem de Moebus alguma coisa e de doutor ainda mais, não o meu estilo. Ida a casa que se fazia hora de janta, não em horário português mas sim a tocar o fuso horário inglês. Cedo assim demasiado para se fazer sequer hora de tal ritual. Mais ainda, não interessa. Caminhada de volta a centros não planetários mas apenas citadinos, procura do lugar onde iria deixar emoções e eis que os vermelhos começam a chutar a bola contra os loiros ou louros que não interessa. No fim ao cabo, acabaram os tais loiros a ficar com os louros que nos cabiam a nós. Errata assim seria a do jogo, apenas aquela que foi a nossa que lhes demos os nossos louros. Os couros dei eu, mais do que uma vez, em sofrimento de palavrões e caralhadas. Nervos em flor, em superfícies mais do que epidérmicas, a transbordar em suores que fizeram incomodar muitas gentes. Acabou-se tudo, o jogo, a emoção e o europeu. Sozinho como festejei muitas vezes, deixei-me estar em tristezas a tocar inutilidades.
O convite seguinte que me fiz forçar a aceitar era de um jantar com restos de memórias de uma cidade e gentes. Feito à base de verduras, carnes pelo meio e peixe à mistura. Um batido total de tudo que este ano deu, a chegar a tocar num clímax que foi o jantar feito de histórias mal contadas com memórias mal recordadas. Fez-se tudo com o jantar, que foi mesmo feito de tudo. Era eu e quatro da França que tanto dou treino. Foi jantar feito de palavras mas que chegou a ter comida. A cerveja mentia ao espírito que esse mesmo era regado de lágrimas notórias de memórias e feitas de Saudade. Esqueceu-se tudo e teve-se um momento último, de satisfação, de amizade, de conversa simples e inocente. A música parou para dar lugar ao filme, a uma história famosa, lamechas e tudo de entretenimento. Foi feita de danças e músicas em alegria e assim por ai ficou.
Acabo agora aqui em casa com cigarros quase românticos de serem feitos por tabaco puro, sem filtro, com papel e as mãos de cheiro entranhado. Como ontem acabo a sonhar, ontem escrevi o meu sonho em palavras com todo o sentido que eu mesmo chego a ter. Hoje, sem sentido algum sobre aquilo que me digo, tocado apenas pelo sintoma das fermentações, não sóbrio, não bêbado mas resignado ao destino que sou eu mesmo dentro de mim próprio e de tal arrogância de palavras, fico aqui, acabando com o mesmo sentimento de ontem e sem as mesmas palavras de algum dia. Apenas a vontade de dia vinte e oito e uma coisa de memória dita feita em desespero próprio que sou eu mesmo, assim sem nada.
Hora de ir a algures que é aquele lugar entre o sonho e a imaginação, que não sonho pois a hora é de dormir e todos os meus sonhos crescem despertos, que imaginação sim que imagino almofadas que não azuis e fofas, mas sim nuas e poderosas.
Vou-me que se faz tarde na minha hora nunca chegada.

Tuesday, 17 June 2008

Uma música, e das potentes!

Guns N' Roses - Civil War

Live in Chicago

Composição: W. Axl Rose / Izzy Stradlin

"what we've got here is failure to communicate
some men you just can't reach...
so, you get what we had here last week
which is the way he wants it!
well, he gets it!
n' i don't like it any more than you men."

look at your young men fighting
look at your women crying
look at your young men dying
the way they've always done before

look at the hate we're breeding
look at the fear we're feeding
look at the lives we're leading
the way we've always done before

my hands are tied
the billions shift from side to side
and the wars go on with brainwashed pride
for the love of god and human rights
and all these things are swept aside
by bloody hands time can't deny
and are washed away by your genocide
and history hides the lies of our civil wars

d'you wear a black armband
when they shot the man
who said "peace could last forever"
and in my first memories
they shot kennedy
an i went numb when i learned to see
so i never fell for vietnam
we got the wall of d.c. to remind us all
that you can't trust freedom
when it's not in your hands
when everybody's fightin'
for their promised land

and
i don't need your civil war
it feeds the rich while it buries the poor
your power hungry sellin' soldiers
in a human grocery store
ain't that fresh
i don't need your civil war

look at the shoes you're filling
look at the blood we're spilling
look at the world we're killing
the way we've always done before
look in the doubt we've wallowed
look at the leaders we've followed
look at the lies we've swallowed
and i don't want to hear no more

my hands are tied
for all i've seen has changed my mind
but still the wars go on as the years go by
with no love of god or human rights
'cause all these dreams are swept aside
by bloody hands of the hypnotized
who carry the cross of homicide
and history bears the scars of our civil wars

"we practice selective annihilation of mayors
and government officials
for example to create a vacuum
then we fill that vacuum
as popular war advances
peace is closer"

i don't need your civil war
it feeds the rich while it buries the poor
your power hungry sellin' soldiers
in a human grocery store
ain't that fresh
and i don't need your civil war
i don't need your civil war
i don't need your civil war
your power hungry sellin' soldiers
in a human grocery store
ain't that fresh
i don't need your civil war
i don't need one more war

i don't need one more war
whaz so civil 'bout war anyway


Monday, 16 June 2008

Mazelas..

Porque o Karioka pediu e já agora para ficar aqui registado, aqui ficam as mazelas da noite de sexta. Isto são passados dois dias por isso está bem melhor. Continua apenas a cor e um pequeno inchaço.

Desculpem lá o cabelo estilo manjerico mas sabe como é, apenas Paulo Jorge cabeleireiros tem autorização para a sua modificação.

Sunday, 15 June 2008

Curto manifesto do enamoro.

Eu continuo enamorado, completamente e com a certeza disso mesmo. Não quero esquecer isso, todos os dias reconheço isso e faço para que tal não mude. Simplesmente não me imagino sem que esse sentimento não faça parte de mim. Desafio todos e todas a provarem-me o contrário e a quererem o meu recuo. Encontrei uma coisa que de demasiado bela não quero perder e que mesmo que perca estará comigo. Digo de minha verdade que tive os melhores momentos neste estado e se o vou voltar a ter não o sei. Sei das certezas de que sou eu feito e que esta é uma das grandes que me faz. Falo disto com naturalidade pois é esta mesma naturalidade que me faz sentir assim. Sou o que sou, agora mesmo e nos próximos futuros graças ao que de tudo me trouxe este sentimento. Isto poderia ser como uma manifesto a quem me assim me deixa mas não é mais do que um manifesto a mim próprio que me dou no direito de assim sentir. Sei o que sinto com certeza e não aceito que me digam o contrário, pois só eu mesmo na minha eterna arrogância sei saber verdadeiramente o que isto tudo me dá. O que me dará não sei, o que darei em troca será sempre isto mesmo que sou eu próprio inserido nesta coisa a que chamam "O Sentir". Fácil ou não, doloroso ou menos doloroso, alegre ou menos alegre, com esperanças ou sem esperanças. Por mais estados de espirito que tudo isto me possa levar eu afirmo que por isto continuo afim.
Errado estarei ou errado não estarei, digam-me a mim que mais certo do que isto não pode existir. Eu sei que não.
Ponto.

A beleza das palavras...

António Lobo Antunes

Foto de José Carlos Carvalho

Dizem sobre a beleza.

Dizem muito sobre a beleza, chamam-lhe nomes, dão-lhe rostos, dedica-se a pessoas, falam-lhe dos belos cabelos, dos lábios e da vontade, vontade de lhes mergulhar a beleza. Dos peitos redondos e maciços, contrafeitos por encomenda ou imaginários de tão belos (eu imagino a beleza dos reais). Chamam beleza ao vaso da mulher, alguns dizem rude mas ninguém lhe nega a beleza. Falam da beleza de uma ou outra natureza. Falam da beleza em todas as coisas, por mais pequenas que sejam ou por exageradamente grande que possam ser.

Eu hoje vi uma beleza, está em baixo numa imagem. Hoje só quero pensar na beleza desta imagem.

Foto: © Bodhan Paczowski - Gombrowicz na sua secretária (Vence, 1965)

Eu não me entendo!

Hoje é domingo, domingo depois de sábado mas isso chega a ser lógico. Mas lógico, por vezes não percebo bem essa palavra, é certo que domingo bem depois de sábado mas porque dizer lógico? Provavelmente que a lógica do nosso senso comum nos diz que o domingo vem depois do sábado mas porquê chamar lógico a tantas outras coisas? Será apenas porque o senso comum as regula a todas? Eu acho que aos poucos vou perdendo o meu senso comum e toda a minha lógica se afunda. Coisas que sempre tomei como “lógicas” vejo-as agora como as mais incertas e nunca as percebo é certo. Mas o que pode estar a acontecer é que essas mesmas coisas que vou deixando de perceber não sejam lógicas ou apenas não sejam mais lógicas como chegaram a ser. A incerteza acaba por ser a única coisa lógica de que me lembro.
Hoje domingo, ontem tive festa, de despedida, lógico que os sentimentos foram de nostalgia, alguma tristeza, saudade já a chegar só de pensar nas pessoas que não mais vou ver ou o quanto poderá demorar até ver algumas destas pessoas. Mas aqui, uso a lógica em sentimentos e isso não posso fazer, deixei de acreditar na lógica do sentimento faz algum tempo, e vou perdendo cada vez mais a lógica dos meus sentimentos embora os tenha como certos. Certezas do que sinto sempre foi muito lógico para mim, lógica essa que perco quando vou pensando em sentimentos que não meus. Pensar nos sentimentos de outros deixou de ser coisa que possa fazer, pelo menos sem sentir a minha própria nostalgia.
Devo dizer que agora ou atravessado por flechas e flechas de coisas que me atravessam de uma maneira que acabam por magoar, pensamentos de sentimentos ou sentimentos de pensamentos que nem sequer me atrevo a tentar criar uma descrição já que só se isso fosse em perfeição teria lógica e eu a perfeição não consigo alcançar de certo nestas coisas da alma. É o fim do erasmus, são todas estas despedidas, tudo isso somado à vontade de encontrar Portugal, a saudade do meu canto lá naquele canto, depois, vem o medo do que quero encontrar, de como vou encontrar que sei certo não ser igual. Fico completamente petrificado, aterrorizado com o medo de voltar a Portugal e não encontrar o que sempre quero encontrar e o que desespero por não ter aqui, que foi o meu maior desespero de sempre.
Mas quem disse que seria fácil isto da alma? Sentir assim nunca sequer tinha imaginado ser estranhamente possível e eis que me vejo assim, doente mentalmente, viciado em sentimentos que não controlo e que desespero por não controlar.
Tudo isto é uma mistura estranha, que quero apenas resolver com o regresso ao Pais. Quero destruir-me por completo ou então voltar a sentir esperança que cada dia que passa a vou perdendo.
Mas quem disse que esta coisa da alma era fácil, provavelmente será mais fácil por ventura esquecer e deixar de pensar nisso. Vou até ali e já venho.

Como canta o Camané e compôs o José Luís Gordo:


Eu não me entendo!

Entrego a minha voz ao coração do vento
E quanto mais água dos meus olhos corre
Mais fogo acendo
Eu não me entendo
Eu não me entendo

E por ti já gastei o pensamento
Ai amor, ai amor, se o tempo
Já gastou, já gastou o nosso tempo
Eu não me entendo
Eu não me entendo

A primavera do meu tempo
Já gastei a primavera do meu tempo
Já fiz da boca jardins de vento
E não me entendo
E não me entendo
Eu não me entendo

A primeira das despedidas...

Sem fotos, que não as tenho, e essas mesmo não mostram tudo, ficam as minhas palavras apenas.
Que grande fim de semana tem sido este, que grandes e intensos momentos (sempre quis começar um texto a dizer – Que Grande – embora muitas coisas que tenham a ver comigo possam ser classificadas com este adjectivo nunca cocei um texto desta forma, acho que começo bem). Sexta – feira 13, essa mesma passada foi o dia do meu exame e para fazer jus à fama de tal afamada sexta – feira, foi de loucuras com azares è mistura. Passo aos momentos descritivos da mesma.
Exame pelas nove da matina depois de três maravilhosas horas de sono, não suficientes mas necessárias que pelas cinco já não conseguia ler mais termos de management. Exame das nove às onze e eis que me dirijo ao gabinete do professor Guenter, meu tutor do meu projecto.

By the way – por esta altura deveria já estar na Suíça e ter assim utilizado o meu bilhete de avião Liverpool – Basileia, e estar então no meio dos milhares de portugueses que fazem a festa do europeu português por terras Hélvicas. Na companhia do Michael que ele chegou a fazer a viagem, o Pascal e o Menk que por lá se encontram. Ao invés dessa mesmas situação continuo em Sheffield, a prolongar a despedida de um ano Erasmus. Não estou na Suíça, continuo no meu quarto, e isto porque o meu projecto teve um pequeno atraso nada calculado que me fez ficar por cá no mínimo mais uma semana para o tal projecto finalizar e assim Portugal encontrar num estado mais tranquilo. Começou bem este fim deste ano. A viagem de despedida a ir por água abaixo.

Continuando com o meu dia de sexta, encontro com o tutor, discutir mais um pouco os pormenores do tal vidro que de tão precioso leva prata no meio, catalogado como Biomaterial e esperançado como mais um dos muitos a fazer vezes de partes humanas, com o pequeno pormenor dessa mesma prata ajudar no extermínio de micróbios, não deixando que esses mesmo cresçam em redor do tal vidro que quase se caracteriza como cerâmico. Eu envolvido em ciências biomédicas mais do que sempre quis pois o meu envolvimento nessas áreas sempre foi o perfeito e exacto para mim, acabando por ir diminuindo, daí talvez eu impor a mim próprio um novo envolvimento, que diferente e não aquele que quero mas que não deixa de ser um envolvimento. Tudo serve para manter esperanças em activo.
O tal encontro, acabado com visitas a microscópios de altas definições, com altas qualidades de análise qualitativa e vistas mais profundas do que eu próprio me atrevo a tentar ver na vida, é mais auxilio no tal projecto.
Rumo a casa, a hora era de almoço, o corpo não estava em perfeitas condições se essas mesmo existem ou mesmo se eu alguma vez as tive. Uma boa refeição à base de hidrocarbonetos sempre ajuda, um café levanta a moral e o cigarro levanta o espírito. Banho tomado, corpo quase recuperado, cheiro a perfume e cabelo no ar que a minha recusa a produtos sebosos não me permite um cabelo perfeitamente alinhado e eis que um autocarro tomado depois do mesmo comprimido que me esconde os círculos vermelhos dessa puta chamada de urticária crónica, comichosa e incómoda. Opal two­, as residências de encontro com o Michael, companheiro de noites, dias e aventuras num ano em que estas se multiplicaram com factores elevados não a raízes mas antes a quadrados, cúbicos e demais factores de multiplicação.
Com ele encontrei mais alguns, a preparam-se para as residências deixar e o pensamento ficar nessas mesmas residências, pelo menos até ao recobro total das almas deixadas num ano inglês. Eram italianos na sua maioria, nervosos pelo jogo que se aproximava, mais nervosos pelo resultado obrigatório e mais nervosos devem ter ficado pelo resultado não conseguido.
O destino depois do primeiro eram outras mesmas residências, preenchidas por praticamente apenas internacionais que tocavam os quatro cantos do mundo, que nunca teve cantos mas sempre teve sítios em canto. O objectivo passava por um churrasco que já não se podia chamar disso porque a chuva apagava a esperança transformada em fogueira. Acabou por ser dois a três toques de bola, fosse ela redonda ou oval, pequena ou grande. De futebol a voleibol, houve de tudo, de fogo a papa de carvão houve tentativas de churrasco, de breve a sol a torrencial chuva houve trocas de sítios. Primeiro no jardim, depois em frente a uma televisão a ver Holanda versus França, com alegrias e tristezas. Aconteceram dedicatórias, em camisolas bandeiras e bolas, em palavras apenas mas muitas mais nas lágrimas corridas por rostos de amigos que foram tudo durante um ano. O vinho do porto regava-me a mim e a um certo ucraniano, que quando acabado foi substituído por cerveja, que quando acabada foi tempo de partir.
Os destinos nocturnos seriam por força do destino (a minha força foi mesmo monetária) terrivelmente diferente, tendo sido compostos dois grupos, uns com destinos universitários e bares e clubes de tal característica e o outro mesmo na mesma com bares e clubes abstendo-se da parte universitária. Este mesmo último foi o meu, com paragem para compras de mais Porto em forma de vinho e pão em forma de cerveja. O jantar esse foi em casa do tal ucraniano de nome Ivan, amigo do princípio. Fui eu, foi ele, foi um nigeriano, e um indiano. Quatro nacionalidades completamente diferentes, quatro cores ainda mais distintas e acima de tudo, quatro amigos, internacionais, numa tertúlia que durou para lá das horas da janta, começou tipsy e acabou completamente embriagada. Uma mais companhia de terras Sauditas juntou-se para a sobremesa, que veio directamente do México e em forma de garrafa para ser acompanhada com limão e sal. Não era doce mas foi sobremesa, não se comia mas encheu espíritos, bebia-se sobre a forma de brindes e histórias que o passado rezou na forma de momentos inesquecíveis. O acompanhamento foi uma Itália humilhada por uma pequena Roménia com umas risadas de alegria, outras de Saudade que já chegou para não mais sair e uns bifes incomodados pela nossa alegria que era tristeza e desincorporados desse incómodo com a oferta de alguma sobremesa. Mais uns dos muitos em que os nomes não ficaram registados, as caras o mesmo e o momento marcado como mais um dos melhores que é isto a que se chama programa Erasmus que não é mais do que um programada de vida transformada em crescimento a que alguns chamam alma e eu chamo racionalismo de que aquilo que sei é feito daqueles que me fazem.
O jogo acabou, azuis choraram mas não desesperaram e nós, nós fomos ali a um bar, daqueles que marcam um ano e em que não se esquece o cheiro, o indiano ficou em casa que constou era casado e pai de filhos, em esforços para melhorias de vida que são aqueles de estudar longe de tudo para tudo melhorar. Fomos nós, ao encontro de outros que eram franceses e também esses amargurados por aquilo que foi o momento das cinco da tarde que não foi chã mas sim desgosto. Eu passei da sobremesa para o espírito em bebida, preta assim rotulada, tempos de espera antes de lhe meter a boca que te faz a alma preta mas sem tristeza e te dá um bigode que te faz homem. Nascida em Dublin da Irlanda, foi o meu espírito bebido naquela noite. Com uma delas a ser terrivelmente raptada pelo cabeça rapada do ucraniano que aproveitando um momento de distracção entre uma passa de fumo e dois dedos de conversa fez minha a dele.
A noite já espreitava em luz, a minha já tinha começado fazia horas, as lembranças a partir daqui começam a ser escassas que o corpo não dá para tudo. O caminho fazia-se na direcção da música em altos berros com corpos tresmalhados em movimentos que por vezes são apelidados de dança e em que eu lhes chamo o despertar de tudo e a libertação das forças.
A noite faz-se tardia, matinal quase quando tudo acaba e eis que na saída desse tal clube, eu sem saber como ou o porquê de tal acontecimento me vejo no meio de demonstrações de poderia de força, em que o Homem se transforma em besta no alcanço da glória física a que segundo me consta lhe chamam Luta. A luta foi breve, o balanço não muito grave. Dois socos na cara, um dos quais me deixou a bochecha esquerda maior do que a direita e um corte no lábio. A minha inteligência foi tal que sozinho no meio de alguns não sabendo eu os quanto respondi com outros murros acertados em alguém ou não e uns pontapés de direito e em defesa da minha honra. Por minha sorte chegou a policia que os ânimos acalmou pois senão o resultado poderia ter sido com umas pequenas férias de fim de ano no hospital. Ficou por aí comigo a desesperar comigo mesmo por tal merda de acontecimento, o primeiro na minha vida e que espero ficar por ai.
O resto foi o caminho até casa a cuspir sangue e a caminhar sem direcções únicas.
Foi a primeira das noites de despedida Erasmus, vou-me agora que hoje tenho outra como ontem tive uma. Ficam as descrições de tais noites em alegrias e tristezas e alegrias igualadas da primeira mas com menos violência, ficam para depois. As fotos espero por elas que eu não as posso tirar pela desafortunada sorte da minha ex-máquina fotográfica.
As despedias são assim, tanto de alegria como de tristeza, é um sentimento que ainda não compreendi, não aceitei de certo também. É vazio, não sei se chega a ser sentimento, um ano de amigos que são tudo a toda a hora e agora puf, todos se vão. E o vazio fica. É a vontade de abraçar, com força e não querer largar.
Afinal nem só nós portugueses padecem do Fado, todos os outros que não nascidos debaixo das vinhas à beira mar padecem do mesmo Fado, apenas não conhecem a letra.
Tudo isto é triste, tudo isto é Fado como se canta. Que o Fado não só triste mas feito de todos os sentimentos que agora mesmo vou sentindo.
Vou-me que a hora se faz adiantada e não quero estar atrasado para dizer à malta o que é afinal o Fado.

Tuesday, 10 June 2008

Às vezes esqueço-me do quão simples é feito o mundo.

Às vezes preciso que me lembrem o quão pouco é preciso para se construir um mundo, não o meu, não o vosso mas o mundo em geral. Às vezes preciso que me recordem que o meu mundo não sou eu, mas sim todos, tudo. A música a cantar devagarinho, que não música mas sons, barulho, ruído apenas por vezes. A velhinha na rua, que mal arrasta os pés, a carregar o peso de uma vida. O de cabelo grande, embaraçado no meio da trança, com as rastas a voar, a mochila a tombar, sinais de um mundo que rodeia e rodei e eis que fico tonto. Lembranças de canais fumados com putas ao desvario. Rodas metálicas a rodar fazendo o tempo parar, castelos ao fundo, no cimo do monte a olhar-te com desprezo pela tua pequenez. Às vezes esqueço-me do mundo, irrito-me comigo, irrito-me com os outros e os outros tão cheios de culpa como eu que não sou mais do que o único culpado pelos sentimentos adversos. Às vezes preciso de me recordar, outra vez, daquele toque, macio, carícia feita de amor, o beijo malicioso todo ele molhado que me arrepia até à espinha, não, não, não é espinha é mesmo até lá baixo onde todo eu me sinto, perversamente e tão inocente. Às vezes as recordações de os tempos tão pouco tempo passados, curtos para mim, vêm-me à cabeça a desfrutar de todos os momentos, a correr, desenfreadamente como se não eu conseguisse pensar mais. As corridas de pára-choques no meio do mato, as corridas no meio da mata, os pinheiros que são postes para me desviar, como covas que me posso magoar. O tabaco comprado na máquina

- Olha liga ai a máquina pra tirar tabaco.

Às vezes esqueço-me de mim mesmo como sou eu que não mais do que o mundo que me rodeia, e esses às vezes é tão doloroso que me quero lembrar de tudo, sempre, sempre a lembrar de tudo. As memórias de subir, não, antes descer aquele morro feito de prata por nome, costa de acoplado com o casebre abandonado ali, à espera de dias mais felizes que não fotos de recordações, à espera de voltar a viver outra vez nas recordações de alguém. Tendas de campismo, pequenitas a escaldar com o quente do Sol. Aí as recordações voltam-me a dar vida que somos tudo o que vivemos mas mais somos o que recordamos, que não é mais senão aquilo que nos constrói. A música outra vez a dizer incessante, vai, vai, está na tua hora. A outra a dizer, recorda, agarra-te à memória, luta para que volte a ser mais do que memória e a seres outra vez tu. E eu rendido, sem defesas nas teias da memória.
Às vezes esqueço-me do quão simples é feito o meu mundo, enervo-me, irrito-me e esqueço-me da memória. Os palavrões vêm à boca, que não são mais do que manifestos de procura da memória.
Assim, vou eu recordando todas as coisas

- Ai minhas putas!

E a memória a vir comigo a querer ir visitá-la outra vez, de novo a tocar que tenho tantas saudades de a tocar, a memória feita vida, e toque outra vez. E palavras molhadas no meio de beijos molhados e toques já não mais inocentes. A saudade de ver o mar ao passear, deitar tripa para tripa, de fora para dentro, com o mar. A bola a passar ao lado com a memória na minha frente, a cerveja que de tão torrada se torna no meu sangue a fervilhar no meio da memória e outra vez, voltar de memória. Os domingos de serões no meio de clarões na minha memória e o desejo de lá voltar para dizer Olá, estou aqui, não me fui embora, nunca me fui embora, sempre aqui estive, vamos continuar com a memória, vamos perdurá-la no viver sempre e para sempre. As saudades das investidas nocturnas com passadas a preços inferiores aos escandalosos de hoje, só para matar a sede do bicho novamente e assim continuar com a investida na noite. Em direcção ao mesmo Norte que me faz perder a memória e desesperar com essa mesma ideia. E a investida a seguir e a acabar no leito verde sujo comigo limpo de tudo, suado e feliz. Sedento de mais memórias mortas, é como fico depois de recordar, de dizer, não, volta para mim memória e diz-me que nunca me deixas-te de recordar, diz-me que vamos continuar nas nossas memórias a encontrar e a fabricar outras mesmas memórias. Diz-me que sempre ai estiveste, à espera que te recorda-se e nunca sem vacilar, porque eu nunca vacilei. E estou eu aqui, sempre a viver nas memórias e com o dia-a-dia construir novas memórias nunca sem esquecer.
Às vezes quase me esqueço do que quão simples se constrói o mundo, mas ai recordo e volto a saber que o meu mundo é simples e feito das pequenas e simples coisas que me construíram. Diz-me só memória se voltarás a mim como nunca me esqueceste.

Sunday, 8 June 2008

Portugal - Turquia

Caso não saibam, ontem foi o jogo Portugal - Turquia a contar para a fase de grupos do Europeu de Futebol 2008 na Suiça e Áustria. Eu, como português, amante da selecção e de futebol lá fui eu para o Bar One assistir ao jogo. O jogo foi às 19:45, como tal cheguei ao bar por volta das 16:15 para ver senão perdia uma pitada do jogo e claro está mas entrar em estágio. Pois, se os jogadores para jogarem precisam de aquecimento e de estágio. Nós para ver o jogo em real condições precisamos de aquecer claro está, o que significa que é cerveja com fartura. Vi o jogo da Suiça contra a Républica Checa em conjunto com um Suiço e uma Boliviana, um casal de namorados um tanto ao tanto estranho, mas a verdade é que já estão noivos e tudo. Foi um jogo interessante (quand acabou). Depois foi ver o nervosismo a aumentar enquanto se aproximava da hora do verdadeiro jogo. Instalei-me devidamente - encostado a um poste que não conseguir parar sentado, cerveja na mão e bota a ver o jogo. Entretanto chegaram muitos mais para ver jogar a grande equipa da nossa nação.

Podem reparar no nivel de concentração dos espectadores!

Ah, eu tou ali de vermelho e verde e camisola do Glorioso.

Eu e o outro Tuga

(Acho que eu era mesmo o único doente pelas bandas)



Depois do jogo, com a calorosa de Portugal por dois a zero, os dois turcos que também assistiam ao jogo, como quem diz, foram embora. Não percebi bem porquê mas as canções que eu não parava de cantar e as inúmeas vezes que lhes perguntei o resultado (a cerveja já ra muita e falhava-me a memória de vez enquando) talvez tenham contribuido pelo abandonar rápido.

Depois do jogo, hora de celebrar, e que melhor maneira do que celebrar uma vitória de Portugal do que ir a uma festa em casa de espanhóis? Foi grande festa siml, com muitos espanhóis, a quem disse muitas vezes que Portugal ganhou, etc etc etc.



Na festa...

Para acabar só de lembrar os sapatos extremamente Fashion e a condizer com o momento que eu trazia.
Foi uma noite mesmo agradável esta do primeiro jogo de Portugal no Euro. Não digo mais coisas porque não me lembro (devido ao estágio) mas sei que cheguei a casa já o Sol ia alto.

Friday, 6 June 2008

Sexta – feira à noite, eu, com a sorte de sempre (não que me queixe das minhas sortes) tenho um exame daqui a seis horas. Mergulhado no meio dos livros às tantas da matina, com único horizonte que é o exame, directo, sem dormir que a última coisa que me apetece agora é dormir, que a última coisa que me apetece é estudar, que pensamentos tenho muitos, desejos ainda mais e revoltas muitas mais ainda. Que seria desta vida de estudante sem os momentos decadentes dos exames? Sem as depressões contínuas estimuladas pelos exames? Sem as provocações que isso tudo implica. O meu erasmus está a uma semana do fim e isso sim entristece-me. Mas mais do que isso é acabar o erasmus da maneira como o acabo, com um dia para festejar um ano, com um dia para despedidas de um ano. Peço desculpa por estas palavras tão negativas mas hoje todo eu sou negativo, nada ajuda é verdade e nem eu próprio me quero ajudar. Acho que vou mergulhar em mais alguns exercícios para a mente parar de flutuar.
Hoje sinto-me mal, triste, é sexta à noite e estou aqui, mas se fosse só isso, nunca é só uma coisa, tudo tem sempre que me influenciar, porque serei eu tanto influenciado por mim mesmo? Sem resposta claro está. Nem imaginação para parvoíces me dou ao direito hoje, nem para nada, nem de nada. Acho que vou mesmo mergulhar nos exercícios.
Só, antes um último apontamento. Nunca antes senti um sentimento de solidão tão grande como hoje, nunca mesmo. Sinto-me só, sozinho, só isso, sem nada. E assusto-me com isso. Nem coragem tenho para escrever sobre isso.
Boa noite meus amigos.

Thursday, 5 June 2008

Curiosidades...

Os falantes do Português orgulham-se da "intraduzível" palavras saudade, mas há também que olhar para as idiossincrasias linguísticas de muitos idiomas por esse mundo fora.


Que o amor é complicado, ninguém questiona. Mas o povo boro, da Índia, tem vocabulário aparentemente bem mais atento às "nuances" desse sentimento do que muitas línguas. Para eles, "onsay" significa «fingir amar»; "ongubsy", «amar de verdade» e onsia, «amar pela última vez». Essa busca pelo específico também pode ser observada entre os albaneses, cuja fixação por bigodes (sim, bigodes) ganha vocabulário preciso e diversificado: "madh" (bigode espesso), "holl" (fino), "rruar" (raspado), "glemb" (com pontas afiadas) e por aí vai. São mais de dez tipos, além de 27 termos dedicados a sobrancelhas. Da mesma forma, há na língua japonesa toda uma variedade de sensações sinestésicas de difícil tradução.
*in Revista Língua Portuguesa, 12 de Maio de 2008 — 23/05/2008

QUERO É VIVER

Vou viver
até quando eu não sei
que me importa o que serei
quero é viver

Amanhã, espero sempre um amanhã
e acredito que será
mais um prazer

e a vida é sempre uma curiosidade
que me desperta com a idade
interessa-me o que está para vir
a vida em mim é sempre uma certeza
que nasce da minha riqueza
do meu prazer em descobrir

encontrar, renovar, vou fugir ou repetir

vou viver,
até quando, eu não sei
que me importa o que serei
quero é viver
amanhã, espero sempre um amanhã
eacredito que será mais um prazer

a vida é sempre uma curiosidade
que me desperta com idade
interessa-me o que está para vir
a vida, em mim é sempre uma certeza
que nasce da minha riqueza
do meu prazer em descobrir

encontrar, renovar vou fugir ou repetir

vou viver
até quando eu não sei
que me importa o que serei
quero é viver,
amanhã, espero sempre um amanhã
e acredito que será mais um prazer

Letra - António variações
Reeditada por - Humanos
Canta - Camané

Sei de um Rio...

Sei de um rio
sei de um rio
em que as únicas estrelas
nele sempre debruçadas
são as luzes da cidade

Sei de um rio
sei de um rio
rio onde a própria mentira
tem o sabor da verdade
sei de um rio

Meu amor dá-me os teus lábios
dá-me os lábios desse rio
que nasceu na minha sede
mas o sonho continua

E a minha boca até quando
ao separar-se da tua
vai repetindo e lembrando
sei de um rio
sei de um rio
E a minha boca até quando
ao separar-se da tua
vai repetindo e lembrando
sei de um rio
sei de um rio

Sei de um rio
até quando

Camané - The Prince of Fado!

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
Porque foi o maior poeta português, porque em todos os poemas deles podemos encontrar um de nós, porque não somos só um mas sim um cheio de todos. Porque sempre me inclino a vasculhar mais um poema que não se conheço, porque este é mais um deles. E mais uma vez, ele sem desiludir. Procuro eu então as almas que sou eu, prendo outras que sei que tenho,não fujo das que perco, porque afinal, tudo, todos, são apenas mais um pouquinho de Eu.

Histórias do nosso Brasil...

Sentença judicial datada de l833
Sentença condenatória de Sergipe, de 1833, que condenou o cabra à capadura.
Eis o texto na íntegra:
"O adjunto de promotor público, representando contra o cabra Manoel Duda, porque no dia 11 do mês de Nossa Senhora Sant'Ana quando a mulher do Xico Bento ia para a fonte, já perto dela, o supracitado cabra que estava de tocaia em uma moita de mato, sahiu della de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para coisa que não se pode trazer a lume, e como ella se recuzasse, o dito cabra abrafolou-se dela, deitou-a no chão, deixando as encomendas della de fora e ao Deus dará. Elle não conseguiu matrimonio porque ella gritou e veio em amparo della Nocreto Correia e Norberto Barbosa, que prenderam o cujo em flagrante.Dizem as leises que duas testemunhas que assistam a qualquer naufrágio do sucesso faz prova.
CONSIDERO: QUE o cabra Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento para conxambrar com ella e fazer chumbregâncias, coisas que só marido della competia conxambrar, porque casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana; QUE o cabra Manoel Duda é um suplicante deboxado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quiz também fazer; conxambranas com a Quitéria e Clarinha, moças donzellas; QUE Manoel Duda é um sujetio perigoso e que não tiver uma cousa que atenue a perigança dele, amanhan está metendo medo até nos homens.
CONDENO o cabra Manoel Duda, pelo malifício que fez à mulher do Xico Bento, a ser CAPADO, capadura que deverá ser feita a MACETE.
A execução desta peça deverá ser feita na cadeia desta Villa. Nomeio carrasco o carcereiro. Cumpra-se e apregue-se editais nos lugares públicos.
Manoel Fernandes dos Santos, Juiz de Direito da Vila de Porto da Folha (Sergipe), 15 de outubro de 1833.".
Fonte: Instituto Histórico de Alagoas
Como são belas as histórias da nossa própria história.

Wednesday, 4 June 2008

Como serei eu quando me vejo?

Hoje queria contar uma história, mas a verdade é que a imaginação afastou-se de mim. Se existe alguma razão para isso não sei, mas não deixa de ser estranho. Como podem ver pelos posts que vou escrevendo, imaginação é o que não me falta. Imaginação, sonhos, euforias ou apenas estados de espírito diferentes. Por dizer que estados de espírito, hoje até poderiam ser um bom tema, mas a sério, confiem em mim quando digo que o estado de espírito de hoje mais vale estar recatado, cá no quentinho e no centro, bem no centro da minha massa branca. Era estragar-me em devaneios, mais estragado do que já estou. Não tem sido uma época de exames normal, definitivamente não tem sido, mas deixemos isso de parte que escrevo realmente para deixar isso de parte por uns momentos. Vou contar uma história que não é história com o auxilio de umas imagens que generosamente fui ali buscar ao blog da grande fotografa Juliana Seabra.








Começo exactamente comigo, longe de tudo, com o computador à frente, sozinho, com uma pequena luz cá dentro que vai saindo à medida que vou escrevendo, sozinho, a escrever. Este sim é um ideal de profissão, quem dera eu ser um dos tocados pelo dom das palavras e poder fazer a vida com isso – não sou, por isso continuo nos exames – mas tenho a dizer que mais parte disto tenho de estudar, os livros que eu tanto tenho desleixado – Shame on me – e que estas férias espero começar a recuperar um pouco este enorme atraso que levo. Este é o eu perfeito, este é o eu também imperfeito que assim me vejo. Um solitário no fim do dia, depois de o dia viver, a contar as minhas pequenas histórias. É o meu momento!








Este aqui descrito, descreve-me como o eu, de olhar infinito e nunca e às vezes vazio, a olhar acima, sempre mais acima do que deveria olhar, sempre a olhar imaginários e sonhos ao invés da minha própria realidade, este sou o eu deitado no chão que não meu, que não eu, que não aquele verde que me lembro de deitar e que gostava de me voltar a deitar – terra, fria, preta – erva, molhada, verde – Eu no meio das minhas todas liberdades. Este sou eu, preto no branco sem nada a esconder senão mesmo aquilo que me passa no pensamento e que isso mesmo mostro com todas as palavras o mais escondidas possíveis. Este sou o eu que fui e não sou mais e que serei novamente, este sou o eu todo, ou apenas metade de mim próprio. Este é todo aquele que olha o infinito sem medo de o contar, como números, com paciência, como tendenciosos. Este poderia ser eu deitado no Campo da Fundada quando tinha dez anos. E mesmo agora, continua a poder ter sido e a ser o eu, escondido.





Este sou mesmo eu agora, agora mesmo, sim, sim, neste exacto momento, a tentar não ver o que me mostram, a fugir dos meus medos, deitado no chão, caído, a escorregar pelas ruas da minha amargura, a fugir, a dar as mãos para elas me falarem, não quero escutar, não quero ouvir aquilo que me diz a minha mente, não, sou surdo e não mudo que continuo a falar a altos berros para que não ouça aquilo que me dizem, a tapar a minha cara, não, não, não me digam isso, não quero ouvir, fiquem com os meus pés, fiquem comigo todo, não me fiquem com o meu coração, é meu. E, com as mãos a taparem-me a cara para que as ondas de palavras não me atinjam, eis que deixo o coração desprotegido, eis que tudo me poderá atingir apenas porque não quero escutar o que me dizem, eis que tudo pode marcar, sangrar e cair no meio das batalhas. Eu, no fim de tudo continuo a não querer ouvir, porque só a realidade de ouvir me poderá fazer acreditar. Dou o coração para não cair na realidade.







Este sou eu desesperado quando mesmo não ouvindo, sinto a minha consciência que essa puta nunca lhe dou ouvidos mas que não consigo deixar de a sentir. Eis então que o desespero me afronta a alma, prende o espírito e me atrofia o corpo. Eis que definho sobre mim mesmo sem querer acreditar no que a consciência me diz. Sou eu, apenas agarrado ao chão para que ele não me fuja e passe para o próximo passo, para que ele não me escorregue e me deixe cair no vazio – Tenho medo.





Este sou o eu paralisado, sem reacção, caído em realidades, caído em desesperos, sem identidade. Apenas com a sombra para me dizer que afinal ainda tenho corpo. Sem olhar, sem cor, sem futuro, sem esperança, sem nada senão a profundidade do meu olhar que não é senão um buraco que de tão vazio tudo se pode encaixar lá dentro. Não, antes um olhar onde tudo já se encaixou. Não é um olhar sem passado, é um olhar com passado e sem futuro que apenas não alcança mais do que o ponto abstracto da direcção deste, direcção apenas com um sentido, o de saída pois o de entrada está bloqueado. Serei eu capaz de me tornar num ser tão desprezível assim como este olhar? Já tive momentos assim, tento fugir deles. Não, não, tento tapa-los com as mãos.

Eu,
Escuto o que me vem,




Espero pela hora do que vem,







Luto comigo próprio para não dar parte de fraco,




Mas, apesar de tudo, de todas as inquietações, de todas as forças que me vêm não sei bem de onde, que me invadem e me fazem sentir forte como um leão, como se nada me pudesse atingir, nada mesmo nada, sou mesmo forte, sou o maior, sou aquele a quem ninguém pode atingir senão eu mesmo que sou dono e senhor de mim!
Apesar disso e ainda mais, não consigo deixar de me abrir num todo e dar-me sem receios de ninguém. Como se fosse uma pequena criança inocente não sabendo o quão perigoso é o mundo, apenas pensando que tudo pode ser um brinquedo, que tudo é aventura por descobrir, que todos somos apenas umas marionetas do seu mundo, fazendo tudo aquilo que se pode imaginar.


Assim, eu me dou, sem receio de nada.


Por isso mesmo continuo a ver a luz no fundo do túnel.



E assim, continuo um eterno enamorado pelas coisas que me dão alegria na vida. Sou apenas mais um. Dentro daqueles que pensam e têm a certeza de que encontraram um sentido na vida.


Eu sim, verdadeiramente encontrei um sentido na vida, falta-me descobrir todos os outros.


(não deixei de visitar o blog da Juliana, espero que ela não se importe com este pequeno empréstimo de fotografias, fica já, aqui e agora o meu agradecimento.)

Tuesday, 3 June 2008

Me vs Me

Tenho a confessar uma coisa. Eu ando a falhar, estou em época de exames e não escrevo três mil posts por dia a falar do quanto deprimido estou. Como poderá isto ter acontecido comigo? Existem dias em que nem sequer escrevo nada! Não ando bem de certeza, alguma coisa se passa comigo. Pior de tudo ainda! Hoje olhei-me ao espelho completamente nu (sim com eles ao perindecalho) e reparei que existem coisas no meu corpo que poderiam ser melhores! Não ando mesmo bem, a parte do deprimido ainda posso perdoar a mim mesmo, agora a parte sobre o meu corpo, como posso ser cruel e hipócrita a este ponto? Cheguei mesmo a pensar em fazer algum desporto! Não, não comecem a pensar que estou maluco de todo. O facto de estar aqui a escrever é sinal de que um pouco de lucidez ainda me resta. E é a esta lucidez que me tenho que agarrar como toda a força. Francamente, pensar isto sobre o meu corpo. Como será possível eu ter cometido tamanha crueldade. Não que seja arrogante, auto – confiante demais, egocêntrico ou algo do género, não, não é isso que se passa, sempre fui um pouco realista demais, sim, é esse o problema e esta tarde enquanto me tentava tocar no banho perdi um pouco dessa realidade.

Shame on me!

Esta noite, comecei a voltar a cair na minha realidade e a opinião sobre o meu corpo voltou. O facto desta realidade voltar é contudo sinal de mau presságio, comecei a questionar coisas sobre mim. Terei eu de facto algumas imperfeições? Serei realmente tão magro como a minha avó sempre me diz com paleio de que:

-Gilinho, ai que estás tão magrinho, o que é que tens comido lá por onde andas?

Ao que penso, realmente a comida que como não é lá grande coisa,só mesmo para não dizer pior. Depois logo volto a um pouco mais de lucidez e lembro-me porque gosto tanto de mim. Pelas minhas imperfeições, por isso que me vejo tão bem, porque conheço todas as minhas imperfeições ao pormenor, e melhor ainda. Eu adoro as minhas imperfeições.
Sei que este diálogo soa como algo extremamente egocêntrico (o que poderá ter uma ponta de muita verdade) mas gosto de pensar que afinal não é mais do que uma grande e boa auto-confiança em mim próprio. Esta conclusão assustou-me, assustou-me muito. E este susto deve-se ao facto de esta tarde ter pensado no que pensei (enquanto me tentava tocar no banho). Será que estarei eu a perder a minha auto-confiança? Será? Se há coisa que goste em mim é a minha própria auto-confiança, o poder dizer, quero fazer isto e então lá vou eu tentar fazer isto ou aquilo, a decisão, o querer, isto é uma coisa de que gosto.
Depois começo a questionar-me porque esta breve falha de auto-confiança? Então lembro-me que talvez por querer fazer coisas que afinal não posso, que nem eu posso contrariar, que afinal não depende de mim.
Isto tudo surge e faz com que eu volte aos verdadeiros tempos de exame e me sinta deprimido, sendo assim, cumpro o objectivo deste texto que não era mais senão para me sentir deprimido e verdadeiramente dentro dos exames. Objectivo cumprido.
Por agora devem vocês estar a perguntarem-se porque não parei então de escrever? Pois, agora que estou novamente deprimido, então poderei escrever e assim começa aqui um longo texto. Texto este que precisamente por estar deprimido não estou com cabeça para escrever.
Eu definitivamente não ando bem!
Tudo gira, tudo roda, ainda não senti que vou realmente deixar Sheffield, duas semanas e meia para isso e nada de sentir, porquê? Em parte porque estes tempos não são verdadeiramente de festa e tristemente só terei uma real noite de festa para a grande despedida do meu Erasmus (se esquecer a pequena viagem à Suíça com alguns Erasmus) e isso sim me deixa deprimido. Por outro lado, a verdade é que não consigo deixar de pensar em Portugal, no quão contente que estou por brevemente regressar, voltar a Portugal e a tudo o que isso implica, ou então não implica, não sei. Sei que quero voltar a Portugal. O que me volta à frase de ficar ainda mais deprimido porque sei que estando em Portugal vou tanto sentir a falta de Sheffield e Inglaterra, de todos os que aqui conheci e que tornei amigos, amigos, sim, pessoas com quem compartilhei tudo durante um ano. Sei que uma vez em Portugal, passado algum tempo não vou conseguir estar, tempo este que apesar de tudo, sei que será longo que sinto demasiado a falta de Portugal. Mas passado este tempo e depois de algumas coisas que sinto a falta também seguirem caminho, aí, aí não serei definitivamente capaz de estar em Portugal.
Que bom, estou realmente deprimido agora. Vou-me deitar, chorar, pensar e demais afins para depois sonhar com tudo o que me deixa deprimido mas que tanto amo.
A vida é um milagre e nunca deixará de ser, e o que a torna tão especial (para além do facto de estar vivo) são todos estes sentimentos que me deixam completamente louco. Sentir é de facto estar vivo.

I wish that my feelings were the same, but in a different way.

Life will always be a miracle!
Doesn’t matter how shit you can feel.

Sunday, 1 June 2008

Já sentiram?

Já sentiram ter as mãos imaginariamente atadas? Já sentiram o mundo fugir aos pés e vocês a correrem para o apanhar? Já sentiram o mundo girar? Sabendo que ele gira tão devagar que parece que afinal gira ao contrário? Já sentiram o desespero pelo que têm que fazer estar atrasado? Já sentiram a vida? De todas as formas, alegrias, tristezas, espanto, magia, surpresa, vadia, suja, limpa, amor, paixão, amizade, família, bebedeiras, pedradas, esquecimento, lembranças, arrependimento, tudo menos arrependimento, orgulho, vontade, ida, volta, golo, penalti, defesa, frango, cheiros, sabores, áspero, macio, mamas, pêlos, sovacos, boca, beijo, cabelo, enrolado, solto, vazio, cheio, doente, saudável, vontade de gritar, vontade de chorar, irritação, raiva, desespero, impotência, potencia, electricidade, magnetização, electricidade estática e tudo o resto. Já sentiram um música em que os primeiros acordes vão directamente à cabeça e ao coração, rebentam convosco, dão vontade de cantar rir e chorar, vontade de explodir e de estar, vontade de foder, vontade de fazer tudo e então as mãos amarradas. Já sentiram ver uma foto e ela dizer tudo ou tudo não dizer, e a dúvida vos invadir com a certeza a bater à porta e dizer que afinal ainda lá está, sabendo que a dúvida vai ganhar, sempre e a certeza a não entrar. Já sentiram? E só sentir? Sentem? O que é sentir senão os mais variados estados de espírito, já tiveram um dia em que dissessem:
- Foda-se, hoje é um dia em que sou Feliz!
Ou:
- Foda-se, hoje sinto-me como merda!
E sentir tudo isto ao mesmo tempo? E sentir o desespero de sentir tudo ao mesmo tempo. Melancolia, já sentiram? Que sentimento horrível, só me dá para fazer merda, só me dá para dizer merda, mas pior só me dá para sentir-me como merda, eu que considero-me tudo menos merda, sou um felizardo infeliz por sentir da maneira que sinto e ainda mais por pensar da maneira que sinto. A minha felicidade leva-me à quebra da normalidade, a normalidade detesto-a, este preconceito para com ela leva-me a todos os sentimentos, chega a parecer que a vida não faz sentido, chego a desejar com mentira a normalidade. Tudo é tão simples, e eu sempre a complicar as coisas. Aquilo que sempre quis, a simplicidade, quebro por ser rijo demais, simples demais, complico tudo de tal maneira que acabo a sair destruído por mim próprio. A solução que encontrei para tudo isto é de tão simples que é a mais complicada de todas, chega a dar medo. A solução mais cobarde de todas, tudo é preciso fugir. Sou um cobarde tal com esta tão exagerada, auto-proclamada, arrogante coragem, sou o maior cobarde de todos, só sei fugir. Mas, acabo por fugir depois de encarar os factos e realidades e realmente fugir a melhor das opções.
Algo de grande anda no ar para os meus lados, se tudo correr bem dentro em pouco posso dizer com certezas o quão grande é. Agora até tenho medo de dizer.
Agora, vou apenas existir e continuar a sentir todos os sentimentos que consigo.